quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A identidade como conceito

Fotografia © Augusto Brázio

A agência noticiosa EFE elegeu as mais especiais "concept stores" lisboetas. Espaços comerciais que não se limitam à transacção "entrar-comprar-sair mas se desfrutam e conseguem que o usuário se sinta especial". Lojas que oferecem uma experiência acrescida aos seus visitantes. Como A Vida Portuguesa.

"Em Lisboa, a loja A Vida Portuguesa seduz a sua clientela com a "identidade" dos produtos tradicionais do país. A sua criadora, Catarina Portas, interessou-se pelas marcas portuguesas "de toda a vida" - que mantiveram ou se inspiraram em embalagens antigas e que não se encontravam à venda em qualquer grande superfície. Era importante que fossem pequenas empresas que "contassem uma história e tivessem experiência", disse Portas à agência EFE.

Da venda destes produtos em cabazes, em 2007 passou à procura, no bairro lisboeta do Chiado, de um espaço que também representasse a sua filosofia, e encontrou-o num antigo armazém, abandonado desde os anos oitenta, e no qual praticamente não tocou.

"Uma das principais diferenças em relação a um centro comercial é o espaço e a forma como se conserva. Mantive a distribuição e o traço antigo e histórico, porque queria provar que é possível não ter de destruir para ter uma loja de êxito hoje em dia", explica a jornalista sobre o espaço (outro valor que serve como diferenciador para as "concept stores").

A loja de Catarina Portas não é frequentada só por clientes idosos a comprar produtos que desapareceram nos pequenos comércios de bairro, mas também por estudantes de belas artes e estrangeiros, por exemplo. Uma confirmação que "não se vende só por melancolia de quem já conhecia os artigos, mas por representar uma identidade diferente".

"Não é só a moda do 'vintage', mas a diferença que se encontra entre os produtos locais, um equilíbrio fundamental para o mundo global em que vivemos", diz a empreendedora. Apesar de não vender conhecidas marcas internacionais, Portas considera que os seus produtos também são de luxo. "Hoje em dia, acho que ter um bolso de linho bordado à mão é um luxo pelo trabalho e a história que o precede".

Através do êxito de suas lojas, uma na capital (que facturou um milhão de euros no ano passado) e outra no Porto, relançou por exemplo as "Andorinhas" Bordalo Pinheiro, um dos seus produtos mais procurados. Vendem cerca de 10.000 unidades por ano, "de um produto que a fábrica quase não vendia".

"Fizemos um trabalho que repercutiu na sua venda, mas sobretudo no seu posicionamento e na sua valorização", opina a dona de uma loja cujo conceito "de identidade, mas não de nostalgia" foi reproduzido ao longo do país, em estabelecimentos "gourmet" ou de artigos para turistas.
No entanto, estas imitações não a preocupam porque ajudam a cumprir o objectivo a que se propôs: que os cobertores da região do Alentejo, as ovelhas de lã da Serra de Montemuro ou os produtos de folha-de-flandres (usada na latoaria) do norte do país, não desapareçam." Entrevista de Ana Aranda para a EFE. E daqui para a secção de economia de El País.

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